segunda-feira

Carta para a morte!

Continuamente sonhava com o dia em que tudo começaria a dar certo, porque desde sempre fui amaldiçoado por um espírito “empata vida”, as coisas começavam, eu me agitava, tinha ânimo,
aquela sensação gostosa de agora vai, contava pra todo mundo, ledo engano, tudo entortava, enroscava, atravancava,perdia-se...
Mas depois de alguns dias, me renascia, e lá ia para uma nova tentativa, uma nova chance, um novo sonho, tudo se fazia novo, e minha mente, sempre otimista, se enchia de esperança...
[mas]
o enrosco voltava, eu me curvava, a vida parava, mas eu não chorava.
Mentia pra mim que não era isso o que eu queria que ainda bem que acabou logo, assim não me tomaria o tempo para uma nova investida, que seria a derradeira.
A vida foi passando, nada se ajeitando, juventude acabando...

Hoje estou só
Sem passado
Sem presente
Sem futuro
Nenhum filho pra me consolar
Nada de netos pra virem brincar comigo
Amigos?
Nunca tive!

E foi por isso que com 19 anos me enforquei
Porque nunca quis escrever esse texto
Pouparei-me dessa solidão
Enganei a velhice e o deserto
Saí do palco antes da triste cena final


Pelo menos morri belo e jovem
E vi pessoas se perguntando por quê
Isso me bastou
Foi o momento mais alegre da minha vida

Perguntaram-me se um dia,
talvez fui feliz
Eu respondi:
Num instante e por um triz…
A felicidade não quero ver
para os finais…
Pois não quero sofrer
nem um pouco nem a mais…
Devo é estar louco…
Por ainda viver,
ou por simplesmente querer morrer!
Quero é voar!
Voar para bem longe
para que ninguém me possa reconhecer,
e ninguém mais venha a sofrer,
por simplesmente me reconhecer!
Vendo esta minha face
nos destruídos locais por onde passe…
Será pecado ter sorte
e escapar constantemente à morte?
Acho que talvez não
mas a mim parte-me o coração
Vê-la passar-me ao lado
e ela não me ligar…
vela através de mim
e ela não me matar…
Nesta minha história
ela está presente
até na memória,
mesmo na mais recente…

- Morte eu chamo-te
Vem a mim
e destrói-me a mim
Fá-lo agora, desenha o meu fim!
Estou perante a janela por onde espreitas
Mata-me agora e aqui!…